Cabeça vazia... Sem pensamentos... Sem direção... Sem noção do que está fazendo...
Me sinto assim, perdido, alienado, sem ter para onde ir.
Antes de vir para o Ceará eu escrevia, um escritor amador sem nada muito excepcional a oferecer, mas alguém que sabia o que queria estar fazendo. Ultimamente tenho me sentido incapaz de escrever uma simples história, desregulado, sem um tempo de folga de mim mesmo. Isso faz muita falta...
Lembro-me que em São Paulo eu seguia uma rotina, principalmente por causa dos meus pais e irmãos: eu tinha que acordar cedo pela manhã para usar a internet, a tarde e a noite ficavam reservadas para a escrita, para o exercícios da imaginação, e comumente durante a madrugada, por tempo indeterminado eu ficava na lage da garagem que fica ligada ao quintal da minha casa no mesmo nível, andando de um lado a outro, passando do quintal para a lage, da lage para o quintal, discutindo comigo mesmo sobre as coisas da vida. Era a minha rotina, eu sabia o que estava fazendo. Agora não, agora é diferente...
Toda segunda-feira aqui no Ceará, tem feira de rua no centro urbano de Pereiro, por causa disso, é comum que todas as segundas-feiras meus pais e eu estejamos lá para aproveitar a feira. Depois que aprendi a dirigir, sou eu que levo meus pais até lá e os trago de volta. É um dia muito importante, como também um dia muito estressante, toda vez que tenho que dirigir a tensão me deixa com os nervos a flor da pele. Quando meu pai começa a me guiar nas manobras, já que eu não tenho a mínima noção de espaço, ele tem o péssimo hábito de dar a direção sem falar direção nenhuma... Isso me enlouquece! Eu fico completamente perdido! Começo a gritar e a xingar mesmo! Nessas horas, minha mãe já deixa preparado um suquinho de maracujá para me acalmar - às vezes nem isso funciona! No entanto, por mais que eu odeie esse lado da direção, dirigir se tornou a minha fuga. Sim, a coisa que eu mais tenho odiado fazer é também o meu único alento. Chego a ficar ansioso para estar no volante, não para me sentir dono de mim, sou de longe um bom motorista, mas para simplesmente sair daqui do sítio, ficar longe daqui, andar, sair da péssima rotina em que entrei.
É tudo tão confuso, os momentos que eu tinha para escrever e para pensar era o que me sustentavam como pessoa? Provavelmente sim... Não me reconheço mais...
Sou um monstro, disso não tenho dúvida, não por que eu cometa atrocidades inomináveis, não é isso. Sou um monstro por querer exigir das pessoas o que elas não podem me dar, por que vivo num mundo bizarro, cruel e insensível, por que não importa o quanto eu queira ser gentil, as pessoas não terão o mesmo cuidado. Sou tão ignorante e idiota quanto qualquer outra pessoa, eis o que me nomeia o monstro que sou.
Por mais que se diga que amizade é isso ou aquilo, não passa de uma palavra que a maioria dos brasileiros nunca levou ao pé da letra. Sou um monstro sem amigos e o que é pior, por simplesmente não poder dar as pessoas o que elas querem. Quando se oferece apenas o pouco que se tem, no meu caso, as pessoas foram se afastando uma a uma. Com a mudança de cidade, acho que isso se tornou definitivo. Eu tinha um pouquinho de pessoas que gostavam de falar em amizade, talvez eu até pudesse chamá-las de amigas, em contrapartida, elas nunca quiseram realmente estar comigo - sou um monstro, lembra-se? Não sou o tipo de pessoa que chama a atenção, por mais que eu queira, por mais que eu tente, eu não chamo a atenção, sou um monstro solitário. Nem todo mundo sabe o quão é horrível estar aqui, ter cometido erros e não poder pedir desculpas. A amizade é tão mentirosa quanto o amor? No meu caso, sim...
A amizade supostamente deveria ser um laço entre duas pessoas, se uma não está bem, a outra deveria ser a ajuda que a outra procura. Muitos tem isso em mente e acreditam nisso, realmente confiam em pessoas que consideram como amigas e nem sequer pensam no significados desta palavra. A pessoa precisa de ajuda, de apoio moral e não tem nenhum. Onde estão os amigos? Os que se diziam meus amigos dificilmente leriam este texto, na verdade, sou tão medíocre que ninguém irá ler estas linhas, chegar a estas palavras e dizer a si mesmo que mudará a própria vida por perceber que não sou o único que se tornou um monstro solitário.
Enquanto isso, várias outras pessoas levam a vida numa boa e me parece que sou o único que nunca irá para uma faculdade, que irá conseguir um emprego descente, que nunca irá conseguir ser feliz e realizado na vida. Em Janeiro, dia 17, faço 23 anos, 5 anos desde que terminei o ensino médio e nada da minha vida significar alguma coisa. Não sou humano, sou um monstro, pois vivo uma vida de mentira...