sexta-feira, 31 de outubro de 2014

CRÔNICAS: DESESPERO


Desespero...

Talvez não haja palavra melhor para definir o sentimento que me irrompe a mente e o peito. Angustia e desolamento podem contribuir a sua forma para ilustrar esse desespero, mas nada melhor do que uma ideia, na verdade, de um fato.

Um carro velho, nada barato para quem não tem dinheiro, tão velho que já não é mais necessário pagar IPVA, mais novo que eu cerca de três anos. Quando chegou aqui, estava em perfeitas condições, mal sabia eu que seriam condições perfeitas para dar problemas...

Não sei o quanto a minha evidente inexperiência com carros contribui para o seu desajuste, mas confirmo que carro velho só dá problemas, você consegue arrumar um ou outro, aparecem três ou mais logo depois. Você acha que um problema foi arrumado, no entanto, ele ainda persiste toda vez que você deixa o carro um ou dois dias sem ligá-lo.

No Domingo, 26 de Outubro, eu deveria ter saído de carro para ir votar (não irei contar os detalhes sórdidos que é a política no Brasil), mas quando tentei ligá-lo pela manhã e deixá-lo pronto para sair, o carro não pegava de jeito nenhum. O motor ligava, fazia barulho, porém, quando tentei acelerar, o carro afogava. Tentei girar a chave em ponto morto, ele fazia um pouco de ronco e logo morria. Quem entende de carros deve saber que o problema é sério...

Então, quais as minhas alternativas? Jogá-lo fora e comprar outro? Mandá-lo para o concerto? Não, nenhuma das duas. No meu caso, é bem explícito, devo esperar por um milagre, sim, um milagre! Ao longo de 2014 o carro veio demonstrando que seu funcionamento é precário, que é necessário uma revisão completa, troca de pneus, de óleo e tantas outras coisinhas que foram quebrando e se desgastando aos poucos como a fechadura do porta-malas ou da porta do motorista. A fechadura do porta-malas quebrou mesmo e já foi substituída por uma nova que, mesmo travada, acaba abrindo com a trepidação destas estradas de terra cheias de pedregulhos. A da porta do motorista, por sorte, ainda consegue abrir, por vezes falhando, mas ainda consegue abrir. O motor, bem, Damião, o cara que me ensinou a dirigir, disse que o motor é bom... Não acredito nisso, se o motor falha desse jeito, não pode ser um motor bom, quando ele funciona, deveras, ele consegue ir a Jaguaribe, uma cidade vizinha que fica a uns 50 km de distância pela rodovia, e voltar sem problemas. Não posso negar que ele funcione bem assim, em contrapartida, várias vezes o carro ficou parado por não conseguir sequer sair do lugar. Já não me sinto confiante em dirigi-lo novamente e terei de esperar pelo meu milagre...

Pretendo, durante o mês de Novembro, participar do NaNoWriMo, conhecido como o mês mundial para escrever. A proposta original do NaNoWriMo era ser uma espécie de concurso nacional dos EUA, criado pela associação de escritores de lá e que visa fazer os escritores, profissionais e amadores, escreverem um livro de no mínimo 50 mil palavras em apenas 30 dias. A empolgação cresceu e agora escritores de várias partes do mundo também querem participar – como os corredores amadores que começam a correr logo após os profissionais na São Silvestre, não importa se vão conseguir chegar ao final, o importante é escrever, escrever, escrever...

Bem, depois de um ano que vi amigos escritores comentando sobre o NaNoWriMo, decidi que este ano iria participar e já me inscrevi, deixando no site oficial o plot do livro que estarei escrevendo, com o título: BRANCO. Não, não deixei ‘em branco’, Branco é o nome de um grupo de mercenários a qual estarei relatando uma de suas missões em nome da família da Casa Real de Fortemar, para conseguir um artefato místico e supostamente restaurar a paz entre os reinos de Percínia. Muita confusão pela frente, posso garantir! Meu maior intuito é pelo menos conseguir inscrever o livro no concurso final, onde será escolhido algum vencedor (não sei quantos) para terem o livro oficialmente publicado.

Fiquei imaginando, e se...

E se eu conseguisse, mesmo sabendo que isso é uma loucura minha, e tivesse o livro de fato publicado, conseguindo assim algum dinheirinho extra?

Eu pensei, bem, não deve ser muito dinheiro, então tudo o que eu poderia fazer era tentar concertar o meu carrinho e tirar a minha carteira de motorista (Já disse que sou pobre e não tenho como tirar a carteira de motorista? Não? Então está dito...).

Minha maior vontade era de ir para uma faculdade, terminar um curso superior. Eventualmente, não é bem isso que eu quero, o que eu quero mesmo é ser feliz e deixar todos esses problemas para trás, no entanto, vejo que essa é a única saída, mesmo que eu continue infeliz e sem emprego (não está fácil para ninguém). Tenho vontade de fazer faculdade, pois, quem sabe, eu pelo menos teria uma forma de me sustentar quando o pior acontecer...

Mas eu já não sei, a cada dia que passa nesse inferno em que me encontro, vejo minhas forças serem minadas, não tenho no que acreditar de fato e sempre parece que eu só nasci para ser azarado – devo ter feito algo muito ruim em vidas passadas, não é possível!

Sei que tenho alguma sorte, tenho saúde, o que comer, um notebook e internet, por enquanto isso me basta. Por outro lado, sou idealista, preciso de um futuro, algo que assegure a minha sobrevivência ou... Quem sabe eu deveria pensar mais na outra possibilidade, já que o mundo não é um lugar pra mim, talvez eu devesse deixá-lo...

Será que faria diferença? Ou será que tudo isso foi feito de propósito, para que eu chegasse a esse final? É difícil acreditar que algo está sendo feito para evitar a iminente tragédia, é difícil...

Quem sabe eu devesse rir disso tudo e pensar: “Ei, não é tão ruim assim, é?”. A quem eu estaria querendo enganar?! Estou desolado, perdido, em desespero...

Venho, a muito custo, tentando entender qual o sentido disso, por que eu não posso simplesmente ter um carro que não tenha problemas tão sérios ou, por que eu não posso ter uma fonte de renda que pudesse suprir suficientemente a conta de um carro velho e problemático no mecânico?

Aliás, nem há um mecânico de verdade nessa cidade...

Não sei o que pensar, eu deveria estar em outro lugar, pensando outras coisas, preocupado com outros problemas, mas parece que eu ainda estarei aqui, me lamentando por estar aqui e não lá.

Desculpe-me se nas minhas crônicas não há grandes aventuras, fortes emoções e um intelecto analítico requintado com ares de gênio. Não, aqui há apenas eu e a minha história confusa, que ninguém quer ler e que logo será esquecida pelo mundo.

Houve algum sentido nisso tudo?

Há muito tempo me questiono e a resposta ainda é NÃO...

Nota¹: O carro está, ao menos temporariamente, funcionando agora, pois o carburador foi limpo e uma sujeirinha, mistura de óleo e poeira, caiu bem num buraquinho que fazia o carro falhar. Tomara que permaneça assim por um bom tempo!


Nota²: São necessárias pelo menos 1’666 palavras/dia para chegar as 50 mil ao fim de Novembro, consegui 1’200 com esta crônica...

2 comentários:

  1. E por essas e outras que opto por não ter carro, por enquanto. Mas com a onde de azar que você vem tendo é melhor salvar seu livro na internet. Mo google docs ou no Skydrive vai que acontece algo com o notebook também o.O (batendo três vezes na madeira)

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    Respostas
    1. E olha que eu só fui aprender a dirigir aqui! o.o
      Quem sabe o que aconteceria se eu dirigisse em São Paulo... (bate na madeira três vezes)
      Eu conheço o skydrive, tanto que agora o nome dele passou a ser Onedrive (preferia o antigo nome, mas a microsoft quer que seja do jeito dela, fazer o quê?), pode deixar que eu vou salvar tudinho! :)
      Deus me livre e guarde, que eu quero que tudo dê certo com esse livrinho! X)

      Obrigado pela força Adriano! :D

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