SONHOS I
Pelo
bate-papo, dois amigos escritores começaram uma conversa tarde da noite:
— Olá!
Posso falar com você um minuto?
— Oi, pode
sim.
— Sabe
aquele livro que você está escrevendo?
— O quê que
tem ele?
— Você
gostaria de publicá-lo, não que quer?
— Hahah, eu
VOU publicá-lo! Assim que estiver pronto eu irei mandá-lo para as editoras e se
eu der sorte, logo, logo o terei em mãos!
— É sobre
isso que eu gostaria de falar...
— Como
assim? Você vai publicá-lo? Hahah! Ele nem está pronto ainda!
— Na
verdade...
— O quê?
— É
exatamente isso que eu quero fazer...
— Hahahah!
Você não existe! Quer imprimir uma cópia na impressora? Você pode, eu deixo.
— O que eu
quero é firmar um contrato com você para publicar o seu livro quando ele estiver
pronto...
— Fala
sério! De onde você tirou essa ideia?!
— Eu estou
falando sério, eu gosto muito do seu trabalho e gostaria de publicá-lo após as
devidas edições, planejamentos de capa, miolo, ilustrações, registros, etc...
— E como
você pretende fazer isso? Você tem uma editora por um acaso?
— Estou
montando uma, procurando recursos, colaborações, montando uma equipe,
planejando a atuação no mercado editorial. Estou dando duro pra conseguir
erguer o meu pequeno projeto, sabe?
— E com que
dinheiro, até pouco tempo atrás você era pobre, morando no interior?!
— Eu sei,
algumas coisas mudaram e agora eu posso fazer coisas assim. Já estou montando o
meu escritório em São Paulo e um dos meus projetos é desenvolver uma forma de
possibilitar que escritores brasileiros consigam publicar suas obras. Sempre
achei que era um desperdício de tempo e dinheiro quando o país deixa que vários
escritores como nós fiquem esperando que milagres aconteçam. Conheço o seu
trabalho e confio nele, por isso escolhi você como o primeiro a saber sobre a
minha editora.
—
Interessante...
— E não
apenas isso. Pretendo firmar contrato pessoalmente, me comprometendo
inteiramente com o lançamento do seu trabalho e do seu pagamento mensal.
— Pagamento
mensal? Eu vou ganhar dinheiro antes mesmo de ter o livro publicado? É isso?
— Sim, é.
Você faz faculdade, acho justo que você não se preocupe em terminar o curso e
tenha disponibilidade de material e espaço para concluir o seu livro. Era o que
eu gostaria se estivesse no seu lugar e recebesse uma proposta como essa. Os
pormenores eu irei discutir assim que conversarmos corretamente e não precisa
decidir agora, deixe para quando eu lhe mostrar tudo o que tenho a oferecer. O
que acha?
— Você
bebeu? Tá chapado?
— Estou
perfeitamente são e no controle de minhas faculdades mentais. Por enquanto,
peço sua paciência. Não nos conhecemos pessoalmente e acredito estar passando a
imagem errada no momento, porém, creio que irá acreditar em mim quando eu lhe
mostrar o que tenho a oferecer... Se eu te contar sobre as animações, aí sim
você vai dizer que eu sou louco!
— Que
animações?
— Sabe, sempre
que estou lendo algo excelente, imagens começam a se formar na minha cabeça,
como se eu pudesse vivenciar aquilo como em um animê. Isso não acontece com
você?
— Acontece,
mas, você pretende produzir animações?
—
Devidamente, este é um grande sonho meu, possibilitar que a leitura, além de possuir
versão física possa receber outros cuidados, como animações, músicas escritas
especialmente para elas, etc. Tudo especialmente coordenado por mim, para
agradar a todos. Para isso tenho que antes agradar a mim mesmo.
— Você
surtou, cara. Já tomou o seu remédio hoje?
— Estou
falando sério, preciso que me mande o número do seu celular para que eu possa
marcar um lugar e uma hora para nos encontrarmos na sua cidade.
— Eu não
acredito em você e acha que eu vou mandar o número do meu celular?!
— Acalme-se,
por favor. Sei que estou apenas começando no ramo e que isso pode ser
arriscado, mas tenho certeza do que eu quero. Eu vou conseguir montar a minha
editora e a minha produtora de animações, com tempo e paciência, vou me firmar
no mercado nacional.
— No
Brasil?
— No
Brasil, sim. Não há nada semelhante hoje em dia, se não há ninguém fazendo,
alguém precisa fazer. Por que não pode ser eu?
— Eu
acompanhei a sua história, as últimas coisas que postou nas redes sociais. Como
posso acreditar numa mudança tão brusca? Desculpe-me, mas não posso
simplesmente acreditar no primeiro que me disser o que eu gostaria de ouvir.
— Em todo
caso, aqui está o meu número: (11) XXXX-XXXX. Irei até a sua cidade na semana
que vem, preciso me estabelecer aí também, ampliar as possibilidades de
negócios, ver como está o mercado literário atual na sua cidade, ver se consigo
começar uma franquia de livrarias somente com livros nacionais fantástico...
Enfim, eu vou, sei onde você estuda, conseguir o endereço não será problema.
Logo eu irei te ver, prometo que tenho somente boas intenções. Até breve.
A primeira
pessoa ficou off-line.
“Meu Deus!
O cara ficou maluco! Como eu faço agora? Ele vai me perseguir pelas ruas... ou
pior! É melhor eu bloquear ele agora mesmo!”
E assim o
segundo o fez, modificou todas as informações do seu perfil nas redes sociais e
excluiu a primeira pessoa, bloqueando-a completamente.
“Será que
ele estava falando a verdade? E seu perdi uma boa oportunidade? Não, eu tenho
certeza que ele não é capaz de fazer algo tão grande, tão elaborado... A não
ser que ele tenha ganhado milhares de reais de alguma forma. E se ele estiver
lavando dinheiro? Com tantos corruptos no Brasil, o coitado pode ter sido
iludido com dinheiro fácil e está trabalhando para algum político ou alguém que
precise de uma empresa de fachada. Deve ser isso, tomei a decisão certa.”
Ele
desligou o computador e deitou-se na sua cama:
“Mas seria
ótimo que ele estivesse dizendo a verdade... Já pensou? Meu primeiro livro? Ou
quem sabe, um animê baseado nele?! Nossa, que sonho!”
Ajeitou-se
em sua cama, regulou o despertador do celular e finalmente apagou a luz. Era
hora de dormir, o próximo dia seria cheio e ele precisava acordar cedo.
...
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