sexta-feira, 8 de novembro de 2013

SONHOS I

SONHOS I

Escrito por Victório Anthony



            Pelo bate-papo, dois amigos escritores começaram uma conversa tarde da noite:

            — Olá! Posso falar com você um minuto?

            — Oi, pode sim.

            — Sabe aquele livro que você está escrevendo?

            — O quê que tem ele?

            — Você gostaria de publicá-lo, não que quer?

            — Hahah, eu VOU publicá-lo! Assim que estiver pronto eu irei mandá-lo para as editoras e se eu der sorte, logo, logo o terei em mãos!

            — É sobre isso que eu gostaria de falar...

            — Como assim? Você vai publicá-lo? Hahah! Ele nem está pronto ainda!

            — Na verdade...

            — O quê?

            — É exatamente isso que eu quero fazer...

            — Hahahah! Você não existe! Quer imprimir uma cópia na impressora? Você pode, eu deixo.

            — O que eu quero é firmar um contrato com você para publicar o seu livro quando ele estiver pronto...

            — Fala sério! De onde você tirou essa ideia?!

            — Eu estou falando sério, eu gosto muito do seu trabalho e gostaria de publicá-lo após as devidas edições, planejamentos de capa, miolo, ilustrações, registros, etc...

            — E como você pretende fazer isso? Você tem uma editora por um acaso?

            — Estou montando uma, procurando recursos, colaborações, montando uma equipe, planejando a atuação no mercado editorial. Estou dando duro pra conseguir erguer o meu pequeno projeto, sabe?

            — E com que dinheiro, até pouco tempo atrás você era pobre, morando no interior?!

            — Eu sei, algumas coisas mudaram e agora eu posso fazer coisas assim. Já estou montando o meu escritório em São Paulo e um dos meus projetos é desenvolver uma forma de possibilitar que escritores brasileiros consigam publicar suas obras. Sempre achei que era um desperdício de tempo e dinheiro quando o país deixa que vários escritores como nós fiquem esperando que milagres aconteçam. Conheço o seu trabalho e confio nele, por isso escolhi você como o primeiro a saber sobre a minha editora.

            — Interessante...

            — E não apenas isso. Pretendo firmar contrato pessoalmente, me comprometendo inteiramente com o lançamento do seu trabalho e do seu pagamento mensal.

            — Pagamento mensal? Eu vou ganhar dinheiro antes mesmo de ter o livro publicado? É isso?


            — Sim, é. Você faz faculdade, acho justo que você não se preocupe em terminar o curso e tenha disponibilidade de material e espaço para concluir o seu livro. Era o que eu gostaria se estivesse no seu lugar e recebesse uma proposta como essa. Os pormenores eu irei discutir assim que conversarmos corretamente e não precisa decidir agora, deixe para quando eu lhe mostrar tudo o que tenho a oferecer. O que acha?

            — Você bebeu? chapado?

            — Estou perfeitamente são e no controle de minhas faculdades mentais. Por enquanto, peço sua paciência. Não nos conhecemos pessoalmente e acredito estar passando a imagem errada no momento, porém, creio que irá acreditar em mim quando eu lhe mostrar o que tenho a oferecer... Se eu te contar sobre as animações, aí sim você vai dizer que eu sou louco!

            — Que animações?

            — Sabe, sempre que estou lendo algo excelente, imagens começam a se formar na minha cabeça, como se eu pudesse vivenciar aquilo como em um animê. Isso não acontece com você?

            — Acontece, mas, você pretende produzir animações?

            — Devidamente, este é um grande sonho meu, possibilitar que a leitura, além de possuir versão física possa receber outros cuidados, como animações, músicas escritas especialmente para elas, etc. Tudo especialmente coordenado por mim, para agradar a todos. Para isso tenho que antes agradar a mim mesmo.

            — Você surtou, cara. Já tomou o seu remédio hoje?

            — Estou falando sério, preciso que me mande o número do seu celular para que eu possa marcar um lugar e uma hora para nos encontrarmos na sua cidade.

            — Eu não acredito em você e acha que eu vou mandar o número do meu celular?!

            — Acalme-se, por favor. Sei que estou apenas começando no ramo e que isso pode ser arriscado, mas tenho certeza do que eu quero. Eu vou conseguir montar a minha editora e a minha produtora de animações, com tempo e paciência, vou me firmar no mercado nacional.

            — No Brasil?

            — No Brasil, sim. Não há nada semelhante hoje em dia, se não há ninguém fazendo, alguém precisa fazer. Por que não pode ser eu?

            — Eu acompanhei a sua história, as últimas coisas que postou nas redes sociais. Como posso acreditar numa mudança tão brusca? Desculpe-me, mas não posso simplesmente acreditar no primeiro que me disser o que eu gostaria de ouvir.

            — Em todo caso, aqui está o meu número: (11) XXXX-XXXX. Irei até a sua cidade na semana que vem, preciso me estabelecer aí também, ampliar as possibilidades de negócios, ver como está o mercado literário atual na sua cidade, ver se consigo começar uma franquia de livrarias somente com livros nacionais fantástico... Enfim, eu vou, sei onde você estuda, conseguir o endereço não será problema. Logo eu irei te ver, prometo que tenho somente boas intenções. Até breve.

            A primeira pessoa ficou off-line.

            “Meu Deus! O cara ficou maluco! Como eu faço agora? Ele vai me perseguir pelas ruas... ou pior! É melhor eu bloquear ele agora mesmo!”

            E assim o segundo o fez, modificou todas as informações do seu perfil nas redes sociais e excluiu a primeira pessoa, bloqueando-a completamente.

            “Será que ele estava falando a verdade? E seu perdi uma boa oportunidade? Não, eu tenho certeza que ele não é capaz de fazer algo tão grande, tão elaborado... A não ser que ele tenha ganhado milhares de reais de alguma forma. E se ele estiver lavando dinheiro? Com tantos corruptos no Brasil, o coitado pode ter sido iludido com dinheiro fácil e está trabalhando para algum político ou alguém que precise de uma empresa de fachada. Deve ser isso, tomei a decisão certa.”

            Ele desligou o computador e deitou-se na sua cama:

            “Mas seria ótimo que ele estivesse dizendo a verdade... Já pensou? Meu primeiro livro? Ou quem sabe, um animê baseado nele?! Nossa, que sonho!”

            Ajeitou-se em sua cama, regulou o despertador do celular e finalmente apagou a luz. Era hora de dormir, o próximo dia seria cheio e ele precisava acordar cedo.

...


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