Desespero...
Talvez não haja palavra melhor para definir o sentimento que
me irrompe a mente e o peito. Angustia e desolamento podem contribuir a sua
forma para ilustrar esse desespero, mas nada melhor do que uma ideia, na
verdade, de um fato.
Um carro velho, nada barato para quem não tem dinheiro, tão
velho que já não é mais necessário pagar IPVA, mais novo que eu cerca de três
anos. Quando chegou aqui, estava em perfeitas condições, mal sabia eu que seriam
condições perfeitas para dar problemas...
Não sei o quanto a minha evidente inexperiência com carros
contribui para o seu desajuste, mas confirmo que carro velho só dá problemas,
você consegue arrumar um ou outro, aparecem três ou mais logo depois. Você acha
que um problema foi arrumado, no entanto, ele ainda persiste toda vez que você
deixa o carro um ou dois dias sem ligá-lo.
No Domingo, 26 de Outubro, eu deveria ter saído de carro
para ir votar (não irei contar os detalhes sórdidos que é a política no Brasil),
mas quando tentei ligá-lo pela manhã e deixá-lo pronto para sair, o carro não
pegava de jeito nenhum. O motor ligava, fazia barulho, porém, quando tentei
acelerar, o carro afogava. Tentei girar a chave em ponto morto, ele fazia um
pouco de ronco e logo morria. Quem entende de carros deve saber que o problema
é sério...
Então, quais as minhas alternativas? Jogá-lo fora e comprar
outro? Mandá-lo para o concerto? Não, nenhuma das duas. No meu caso, é bem
explícito, devo esperar por um milagre, sim, um milagre! Ao longo de 2014 o
carro veio demonstrando que seu funcionamento é precário, que é necessário uma
revisão completa, troca de pneus, de óleo e tantas outras coisinhas que foram
quebrando e se desgastando aos poucos como a fechadura do porta-malas ou da
porta do motorista. A fechadura do porta-malas quebrou mesmo e já foi
substituída por uma nova que, mesmo travada, acaba abrindo com a trepidação
destas estradas de terra cheias de pedregulhos. A da porta do motorista, por
sorte, ainda consegue abrir, por vezes falhando, mas ainda consegue abrir. O
motor, bem, Damião, o cara que me ensinou a dirigir, disse que o motor é bom...
Não acredito nisso, se o motor falha desse jeito, não pode ser um motor bom,
quando ele funciona, deveras, ele consegue ir a Jaguaribe, uma cidade vizinha
que fica a uns 50 km de distância pela rodovia, e voltar sem problemas. Não
posso negar que ele funcione bem assim, em contrapartida, várias vezes o carro
ficou parado por não conseguir sequer sair do lugar. Já não me sinto confiante
em dirigi-lo novamente e terei de esperar pelo meu milagre...
Pretendo, durante o mês de Novembro, participar do
NaNoWriMo, conhecido como o mês mundial para escrever. A proposta original do
NaNoWriMo era ser uma espécie de concurso nacional dos EUA, criado pela
associação de escritores de lá e que visa fazer os escritores, profissionais e
amadores, escreverem um livro de no mínimo 50 mil palavras em apenas 30 dias. A
empolgação cresceu e agora escritores de várias partes do mundo também querem
participar – como os corredores amadores que começam a correr logo após os profissionais
na São Silvestre, não importa se vão conseguir chegar ao final, o importante é
escrever, escrever, escrever...
Bem, depois de um ano que vi amigos escritores comentando
sobre o NaNoWriMo, decidi que este ano iria participar e já me inscrevi,
deixando no site oficial o plot do livro que estarei escrevendo, com o título:
BRANCO. Não, não deixei ‘em branco’, Branco é o nome de um grupo de mercenários
a qual estarei relatando uma de suas missões em nome da família da Casa Real de
Fortemar, para conseguir um artefato místico e supostamente restaurar a paz
entre os reinos de Percínia. Muita confusão pela frente, posso garantir! Meu
maior intuito é pelo menos conseguir inscrever o livro no concurso final, onde
será escolhido algum vencedor (não sei quantos) para terem o livro oficialmente
publicado.
Fiquei imaginando, e se...
E se eu conseguisse, mesmo sabendo que isso é uma loucura
minha, e tivesse o livro de fato publicado, conseguindo assim algum dinheirinho
extra?
Eu pensei, bem, não deve ser muito dinheiro, então tudo o
que eu poderia fazer era tentar concertar o meu carrinho e tirar a minha
carteira de motorista (Já disse que sou pobre e não tenho como tirar a carteira
de motorista? Não? Então está dito...).
Minha maior vontade era de ir para uma faculdade, terminar
um curso superior. Eventualmente, não é bem isso que eu quero, o que eu quero
mesmo é ser feliz e deixar todos esses problemas para trás, no entanto, vejo
que essa é a única saída, mesmo que eu continue infeliz e sem emprego (não está
fácil para ninguém). Tenho vontade de fazer faculdade, pois, quem sabe, eu pelo
menos teria uma forma de me sustentar quando o pior acontecer...
Mas eu já não sei, a cada dia que passa nesse inferno em que
me encontro, vejo minhas forças serem minadas, não tenho no que acreditar de
fato e sempre parece que eu só nasci para ser azarado – devo ter feito algo
muito ruim em vidas passadas, não é possível!
Sei que tenho alguma sorte, tenho saúde, o que comer, um
notebook e internet, por enquanto isso me basta. Por outro lado, sou idealista,
preciso de um futuro, algo que assegure a minha sobrevivência ou... Quem sabe
eu deveria pensar mais na outra possibilidade, já que o mundo não é um lugar
pra mim, talvez eu devesse deixá-lo...
Será que faria diferença? Ou será que tudo isso foi feito de
propósito, para que eu chegasse a esse final? É difícil acreditar que algo está
sendo feito para evitar a iminente tragédia, é difícil...
Quem sabe eu devesse rir disso tudo e pensar: “Ei, não é tão
ruim assim, é?”. A quem eu estaria querendo enganar?! Estou desolado, perdido,
em desespero...
Venho, a muito custo, tentando entender qual o sentido
disso, por que eu não posso simplesmente ter um carro que não tenha problemas
tão sérios ou, por que eu não posso ter uma fonte de renda que pudesse suprir
suficientemente a conta de um carro velho e problemático no mecânico?
Aliás, nem há um mecânico de verdade nessa cidade...
Não sei o que pensar, eu deveria estar em outro lugar,
pensando outras coisas, preocupado com outros problemas, mas parece que eu
ainda estarei aqui, me lamentando por estar aqui e não lá.
Desculpe-me se nas minhas crônicas não há grandes aventuras,
fortes emoções e um intelecto analítico requintado com ares de gênio. Não, aqui
há apenas eu e a minha história confusa, que ninguém quer ler e que logo será
esquecida pelo mundo.
Houve algum sentido nisso tudo?
Há muito tempo me questiono e a resposta ainda é NÃO...
Nota¹: O carro está, ao menos temporariamente, funcionando
agora, pois o carburador foi limpo e uma sujeirinha, mistura de óleo e poeira,
caiu bem num buraquinho que fazia o carro falhar. Tomara que permaneça assim
por um bom tempo!
Nota²: São necessárias pelo menos 1’666 palavras/dia para
chegar as 50 mil ao fim de Novembro, consegui 1’200 com esta crônica...