quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A VERDADE

Ninguém escuta teus gritos surdos, teu desespero, nem percebe a dor que se encerra dentro de ti...

Meu próprio pai, após seis meses que nos mudamos para Pereiro - CE, finalmente entendeu: Esta terra NÃO dá dinheiro. Ele sonhava em poder cuidar da sua própria plantação, fugir da cidade de São Paulo e morar em sua terra natal, tão cego que não se dá conta de que gasta demais e que nossos recursos são limitados. Foi preciso que um primo dele lhe desse um grito: "Homem! Não deixe o dinheiro acabar!", para que ele percebesse que não temos mais como garantir a nossa sobrevivência e que uma hora iremos passar fome. E, como se eu não lhe tivesse dito várias vezes para pensar antes de agir, ele ainda me critica dizendo que eu não faço nada, como se eu não tivesse aprendido a dirigir mesmo sendo algo tenso para se fazer; como se não fosse por mim que ele fala pela webcam com meus irmãos em São Paulo. Não, ele me considera um mentiroso, um medroso, alguém que não merece confiança. Eu sempre tento ser prático, quanto mais fácil melhor, porém, para ele, isso é ser medroso, ele não se importa se o trabalho no campo possa dar-lhe um mal jeito na coluna e deixá-lo de cama por vários dias, ele não tem 'medo' de nada.

Com isso, vendo definitivamente que nunca serei feliz na minha vida, sinto que estou morrendo, me perdendo, me desfazendo ao vento sem ter nenhum significado, fazendo da minha tentativa de usar a minha criatividade para conseguir viver algo infeliz e desastroso.

Pereiro se tornou um lugar amaldiçoado pra mim, um lugar egoísta que tudo leva e nada devolve. Meu pai teve a brilhante ideia de mandar comprar mercadoria em São Paulo para vendermos aqui e gastar R$2 mil reais com isso - metade do que ainda nos resta. Ele nem sequer pensa em pedir pros irmãos comprarem primeiro para que ele possa pagar depois, ou mesmo se a ideia de vender eletrônicos e seus dispositivos aqui dará algum lucro. Não! Ele vai vender tudo e ficar rico! As coisas são difíceis aqui, talvez nem dê pra vender cartões de memória ou pen-drives, dizem que os policias tomam isso da gente e, por via das dúvidas, ele pretende vender escondido... Será que preciso dizer o quanto isso parece instável e contra a lei? Ele uma vez me disse que não é um moleque, mas sempre faz parecer o contrário...

Meus pai costuma ter ideias mirabolantes, como mandar levantar um parede na sala para fazer o meu quarto (já deixo claro que eu não queria nem precisava) e que, mais recentemente, para aproveitar o resto de uma tinta vermelha escura, ele queria pintar essa mesma parede. Ele não está nem aí se essa cor é forte demais para um quarto, para dormir ao lado de um parede com tal vermelhidão, não, ele quer aproveitar a tinta e pintar a parede! Não é pintar as janelas ou uma porta, é pintar explicitamente a parede ao lado da minha cama, que, aliás, não foi rebocada, permanece com os tijolos amostra.

Não sou uma pessoa feliz e ter um pai assim, ignorante, só piora as coisas. Ele nunca foi um grande exemplo pra mim, uma pessoa arredia que, por sorte, não bebe mais nenhuma bebida alcoólica e também não fuma mais. Tenho medo de imaginar como seria o inferno viver com um pai bêbado que não se importa com os filhos...

Sabe, quando saímos de São Paulo, não dissemos adeus a ninguém, da mesma forma que nossa partida praticamente por ninguém. Mal sabia eu o que estava por vir, se a vida lá era ruim, aqui é pior! Por enquanto ainda temos o que comer, contudo, logo mais teremos de nos virar nos 30, comer pouco e tentar levar a vida. Eu tinha sonhos, vontades que estavam fora da minha realidade e agora vejo-os queimar no fogo, não tenho direito a mais nada. Sem emprego, sem faculdade, sem amigos... Um pessoa infeliz que nem sequer tem alguém para escutar um pouco os seus problemas, que teve que escutar outros que nem raparam que faz muito tempo que estou dentro dessa espiral de fracassos.

Assim, sem nem ter o direito de reclamar, sendo sempre o coitado que não teve sorte na vida, fico esperando para que algo aconteça... Minha mente não funciona mais, não quero mais escrever, ler ou desenhar... Este provavelmente será o último post deste blog, será melhor que uma hora a internet seja cortada e possamos poupar o dinheiro da mensalidade. Novamente o mundo mostra quanta falta de sorte eu tenho, perdendo tudo que um dia eu já quis lutar... Não sei mais o que eu quero, nem sei se tenho o direito de querer. Agora só quero ter o que comer e pode pagar as contas...

Era só isso, mais nada...


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