domingo, 6 de outubro de 2013

MINICONTO: ADORÁVEL NOITE - SUJO DE SANGUE

Há algum tempo, meu amigo e escritor amante de vampiros Adriano Siqueira me convidou para participar de seu projeto de literatura vampiresca, o fanzine Adorável Noite, e finalmente ele está pronto! Abaixo vocês conferem o meu conto e no link a seguir vocês podem baixar o fanzine com todos os outros contos de outros autores! Vamos lá, apoiem a literatura brasileira!


SUJO DE SANGUE

Escrito por: Victório Anthony,
para o fanzine Adorável Noite.





            O sangue pulsava em sua veia, aquela pele macia implorava para ser mordida, o êxtase lhe tomava conta. Uma mordida vermelha e sangrenta lhe lambuzou os lábios. Seu superior, um vampiro infante com a aparência de um garotinho de treze anos, interrompeu a festa:

            — Deixe um pouco para mim Nurian, estou com fome esta noite — disse secamente.

            — Como quiser, mestre Samar... — manuseando a moça desacordada como uma boneca de pano, o servo entregou a vítima.

            Os hábitos do pequeno vampiro, apesar de sua aparência delicada e centenas de anos como andarilho da noite, sempre eram violentos e brutais. Ele não se contentava apenas com o sangue, queria também a carne.

            Ao término do banquete, Nurian tirou um lenço do bolso:

            — O mestre deveria tomar mais cuidado, sempre fica com a boca suja maculando seu belo rosto.

            O pequeno ficou indiferente ao comentário, nunca fora uma criança feliz, era sempre frio e insensível, remorso definitivamente não passava por seus pensamentos. Seu mordomo, por outro lado, era forte, atlético, de lábia forte e sedutora. Trazer uma mulher a sua cama era simples, ele sentia no ar a facilidade que teria com esta ou aquela mulher. A última vítima era uma moça com sobrepeso, “fofa” como ele preferia dizer. A falta de autoestima com sua própria imagem a fez um alvo fácil para seus elogios e sorriso meigo. Ela queria muito aquele homem e quis aproveitar. Coitada...

            Aqueles olhos verdes de Nurian fitaram o rosto perfeito de Samar ao término da limpeza:

            — O que faremos esta noite mestre? Temos ainda muito tempo pela frente.

            Entediado, Samar respondeu:

            — Podemos procurar por ela...

            — Mas, mestre...

            Os olhos do infante denunciavam sua raiva:

            — Nada de mas! Quero a poção da bruxa agora!

            — Pequeno mestre, entenda, ela já o enganou uma vez e vai te enganar quantas vezes forem necessárias para deixá-lo longe dela.

            — Eu vou crescer Nurian, não importa quanto tempo leve, eu quero crescer e deixar esta forma infantil de uma vez por todas! — o servo deu um passo para trás, ele não fora o primeiro mordomo de Samar, nem seria o último a ser estraçalhado por sua fúria.

            — Tudo bem mestre, farei como manda...

            Indo a seu quarto naquele apartamento luxuoso, o pequeno vampiro foi trocado pelo servo. Nascido de uma família real européia, mantinha os costumes antigos: o mestre nunca se troca sozinho, ele é aparando pelos servos que prontamente atendem a seus pedidos, e assim ele tem mantido por mais de quatrocentas anos.

            Desta vez, ele preferiu voar até o novo esconderijo da bruxa: um lugar perdido no meio da selva de pedra da capital, um lugar camuflado por magia sob as extensas pontes da cidade. Ninguém passaria por ali, a não ser um desavisado que seria convidado a entrar e nunca mais sairia. Assim se fez, Nurian temia pela impetuosidade de seu pequeno mestre, uma vez que ele mesmo não se locomovia tão agilmente pelos céus quanto ele.

            Ali, debaixo da grande ponte sobre a movimentada avenida, eles pousaram. Aproximaram-se de uma parede pichada e viram a cabeça de uma moça que sumiu de repente.

            Nurian foi o primeiro a entrar. Lá dentro havia um grande salão, todo decorado com tecidos e tapetes finos, lembrando o interior das caravanas que percorrem o deserto. Com a demora em trazer a bruxa para fora, Samar entrou. Ele caminhou alguns metros e encontrou seu servo dominado pela bruxa:

            — Fora daqui peste miserável! — sua beleza era excepcional, cabelos negros, pele morena sedosa, mas um voz estridente e irritante.

            — Me transforme em um homem e eu lhe deixo ir!

            — Nunca!

            — Que chato, muito chato...

            A bruxa piscou por um instante, sentiu seu corpo todo paralisar e seu peito doer. Olhou de volta para Samar e o viu morder algo vermelho em suas pequeninas mãos. Ela caiu suavemente.

            — Mestre? — disse o mordomo, acordando da hipnose.

            — Me cansei dela, estava com fome...


            — Vamos, você precisa se limpar de novo — e, acostumado, repousou a mão na cabeça de Samar. — Você sempre será meu faminto pequeno mestre...



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