Era a hora, aquele seria seu último dia, o dia em que provava a si mesmo e a Allah que ele era digno de ir ao paraíso. Dirigiu-se para um local movimentado, havia muitos ocidentais ali naquele momento. Um dia muito especial, talvez? Para ele isso não importava, o que importava para ele era morrer em nome do que acreditava, que ele estava certo e todos os outros errados. O colete de bombas debaixo da roupa dava-lhe um aspecto estranho, entretanto, suficientemente plausível para não ser notado até chegar ao ponto em que queria, no meio da multidão.
Estava pronto, retirou o contador do bolso e apertou. Alguém viu o que ele segurava e gritou:
— CORRAM! BOMBA! — a multidão em polvorosa começou a correr e a se atropelar.
Mais alguns segundos e as bombas iriam explodir levando todas aquelas pessoas junto com ele. Foi então que ele o viu, lhe pareceu um americano medíocre daqueles que via seus amigos e mentores queimarem fotos em fogueiras anunciando seu ódio declarado. Pensou em se afastar daquele desconhecido, mas antes que pudesse tenta, ele lhe falou em sua própria língua mãe:
— Viva! Viva por seus filhos! Viva por uma vida honesta! Viva em nome da felicidade mútua entre todos!
Num brusco golpe o sujeito arrancou-lhe todas as bombas e, com incrível velocidade sobre-humana, ele saiu do meio da multidão. O terrorista não podia acreditar no que seus olhos viam. A bomba explodiu longe daquele lugar, salvando a todos, exceto o próprio desconhecido que sem motivo algum se tornou um herói. Com a confusão causada por aquele que viu o detonador, ninguém mais reparou naquele desconhecido.
O Homem-Bomba foi preso, levado a julgamento, solto por falta das provas que misteriosamente sumiram do processo. Durante todo aquele tempo na cadeia enquanto esperava o julgamento, ele se perguntava o que significavam aquelas palavras. Afinal, o que significava viver? Morrer em nome de Allah não era melhor? Ele tinha certeza de que sim, o criador é a resposta para tudo, não se deve ter dúvida com relação a ele. Mas, e aquele desconhecido, quem era ele? Porque ele o salvou? O certo era morrer, não ser salvo!
"O que realmente faz sentido?"
O terrorista retornou aos seus, contou-lhes como sobreviveu ao atentado em que deveria sacrificar a própria vida em nome de Allah, do desconhecido e do que ele lhe dissera. E perguntou, o que aquilo significava.
— Você não deve ter dúvidas sobre nós, sobre Allah! Nós somos a vontade de Allah!
— A vontade de Allah foi que eu continuasse vivo...
— Não, você deve fazer eles pagarem por tudo que nos fizeram, por tudo que nos roubaram!
O Homem-Bomba refletiu, pensou seriamente naquela questão e concluiu:
— Os únicos que roubaram alguma coisa aqui foram vocês, vocês roubaram a minha vida. Eu poderia estar em minha casa, com meus filhos, fazendo as pessoas felizes... Foram vocês que roubaram a minha vida!
— Herege! Tudo é culpa dos ocidentais! NÓS somos os escolhidos de Allah! Não eles!
— Então me diga, como matar aquelas pessoas iria trazer a minha vida de volta?! Eu iria morrer com eles!
— Eles sofreriam por seus pecados e você iria para o paraíso, onde viveria totalmente satisfeito!
— Meu filho... Minha esposa... — ele se lembrou da criança que sua esposa tivera e de quando uma bomba os tirou dele. — Onde eles estão agora? Eles não eram pecadores, nem morreram em nome de Allah!
— Eles morreram em nome de Allah!
— Não, não há sentido...
Ele virou-se, iria abandonar tudo aquilo, viver como o desconhecido lhe dissera, ser honesto com seus atos, viver sem que lhe pudessem apontar o dedo ou lhe dizer que ele era um pecador, viveria para fazer as pessoas mutuamente felizes, ajudando quem precisasse, recebendo quem necessitasse de abrigo. Era a hora de viver!
Armado, o mentor daquele grupo se levantou e atirou:
— Ninguém me dá as costas! Ninguém dá as costas à Allah!
O Homem-Bomba caiu no chão de joelhos, sangrando. Olhou para trás e viu seus companheiros com expressões estranhas, diferentes daquelas que vira outrora, no tempo em se sentia feliz com o que tinha...
Morreu ali mesmo, entre amigos.
Forma horrível de morrer. Seu inimigo liberta sua mente, mas seus amigos quem o mata.
ResponderExcluir